Adormecer

Abre-se a porta do quarto, o perfume do teu corpo invade os meus sentidos, a atmosfera carregada de fragrâncias projecta no ar um ligeiro nevoeiro de perfumes que se agarra em meu corpo como se fossem teus dedos que por mim deslizassem. No centro, a cama desfeita recorda-me momentos de prazer. Sento-me, seguro entre mãos o lençol que ainda carrega extractos da tua essência, como se teu corpo ainda estivesse ali. Inalo profundamente, como se quisesse absorver todo o prazer que derramamos sobre este mar de tecido.

Lá fora o dia desperta, e eu aqui, sentado, sinto o teu espírito partir depois de teu corpo já há muito o haver feito, numa última carícia, passas por mim, numa brisa suave e quente que se esgueira depois pela janela aberta do quarto. Meu braço estende-se, perseguindo tua alma, num gesto de prolongamento do prazer que nos demos, numa despedida breve. No chão as pétalas de rosas que foram cama da nossa paixão esvoaçam em redemoinho atrás de ti.

Abandono o corpo sobre esta cama vazia, lá fora, a brisa do teu ser espera-me, liberto-me inundando o quarto com o perfume da minha aura, num turbilhão quente, voo na tua direcção fechando ao sair o quarto onde nossos corpos se amaram. O teu vento manso, mescla-se no meu tornado e juntos seguimos em direcção ao horizonte, procurando de novo o caminho do nosso mundo, sabendo que nossos corpos saciados adormeceram em sonhos.