No teu dia

No acordar da manhã, sou gota de orvalho, que em teu corpo resvalo. Sou teu perfume intenso, pequena estrela em pleno firmamento. E de teu corpo faço meu leito, como rio manso que descansa nas margens do teu regaço. Sou folha de Outono que do alto do plátano me solto, voando nas asas do teu vento. Sou o som das aves que se levantam do lago de teus encantos. Sou o silêncio das manhãs, que te invade como raios de Sol beijando-te a pele desnuda.

Em ti permaneço, ao longo das horas, que percorrem teu dia, sou a espera da tua demora, o momento em que um golo de café quente toma teu corpo de assalto. Sou o sobressalto do teu quotidiano, corrida intemporal para o fim de um dia, instante de agonia, pedaços da tua vida. E, num momento de cansaço, sou o descanso de teus braços, brisa suave que teu corpo afago. E quando a noite vem tomar conta do dia, sou as mãos que teu corpo carregam, de regresso ao sossego desse lago de águas calmas que é teu leito.

Teu corpo estiro, no cetim dos lençóis, afago teus cabelos, enredando meus dedos em teus caracóis. Teu rosto exausto, deixa-se ficar, e minhas mãos são pedaços de luz, que tua pele ilumina. De ti me faço, tomando teu espírito, absorvendo teu cansaço, e meus dedos como pássaros, sobre ti esvoaçam, libertando sobre tua pele pétalas de flores perfumadas, salpicos de maresias desejadas, e, como gota de orvalho, em ti me deito, em ti me agasalho.

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