Viajante dos tempos

Na magia da noite, o nevoeiro cobre a atmosfera com um manto de mistério. Faz-se o astro branco, turvo, como se o olhasse-mos com as pálpebras entreabertas. Os sons tornam-se ocos e no ar, mais denso, dançam sonhos e quimeras. Meu corpo caminha, por entre as árvores adormecidas, calcorreando trilhos antigos, passos perdidos. Sinto o frio que se encosta na pele, num abraço gélido que estremece o corpo. De regresso a casa, recordo as viagens cósmicas que por entre dimensões meu ser se atreve a fazer. Recordo o beijo de despedida que em plena partida é conforto para o retorno.

Pouso o casaco empoeirado nas costas da cadeira, retiro os óculos embaciados pela entrada num ambiente mais confortável. Na minha mente revejo o último olhar, que ainda prende o meu pensar, como lembrança do momento em que suspendo o tempo. Sento o corpo cansado, distendo os músculos que num frenesim cortaram as distâncias num leve piscar de olhos. Estou aqui, mas fiquei preso em ti, na fragrância do perfume que ainda invade o meu olfacto, num último toque, que ainda se sente na pele despida.

Deixo a música tocar, a lareira acesa faz a madeira crepitar, e ali, quieto, no meu lugar, fecho os olhos, chegou a minha vez de sonhar. Adormeço, no meu sonho só apenas humano, vivo o meu próprio quotidiano, é teu espírito que vem até mim voar. Nessa luz que borda teu corpo nu, deixo o meu abraçar-se, juntos, numa plena fusão, somos a própria erupção, dos momentos de pura sensibilidade, em que as almas só querem amar-se.

Música para este texto.