Memórias

Há um lugar meu, onde o Sol nunca se põe, onde as flores sempre vivem na Primavera e os pássaros cantam canções. Lá de onde venho, o ar é perfumado pelas essências ancestrais, a luz brilha em cada olhar, os sonhos fazem-se de ideais. Nesse mundo antigo, de caminhos secretos e escondidos, guardo a minha alma. Refúgio perdido, esquecido nos tempos, memória de breves e ternos momentos. Neste corpo onde habito, meus sentidos reflicto, como espelho de água, que se agita entre tantos conflitos.

Nos silêncios dos corpos que perscruto, escuto a tua voz de lamento, que em ânsias é meu chamamento, que em fúrias é teu tormento. Voo ao teu encontro, como anjo salvador, procuro em minhas asas amenizar tua dor. Entendo o que teu corpo não fala, porque escuto tua alma, sei de cor os teus momentos, traços de vidas perdidas em abismos de desalento. Nas pontas dos meus dedos te sustento, seguro, aguento, para que não te percas, neste mar agitado por tantos desencantamentos.

Do meu peito liberto a luz, como farol que te conduz, segues-me para onde vou, e de regresso te trago à Terra. Deixo teus pés tocar o chão, escuto o bater compassado de teu coração, solto da tua, minha mão, porque o destino está completo, entreguei-te neste momento de volta ao teu próprio pensamento. Acordas como se surgisses dum pesadelo, sentes à flor da pele cada detalhe desta viagem alucinante, teu corpo tremente se agita, suores são maresia em tua pele, recordações duma viagem distante, consciência duma visita ausente.

E voltarei para te resgatar, sempre que teu grito escutar, para tua alma arrancar, ao poço dos temores e medos, como anjo que te vela e guarda, de todos os teus tormentos. Um dia virá, em que teus pés em Terra não irei pousar, será o sinal que está na hora de a casa voltar.